Eis que chega a primavera, mas não dentro de mim...
Em meu interior há um inverno frio e escuro que
engole e abraça qualquer réstia de sol que ouse escapar. E quanto mais me fecho
pra que essa escuridão não fuja pelos meus olhos, para que não atinja o seu
mundo, mais frio e morto se torna meu eu, transformado numa câmara frigorífica.
Conscientemente vejo quão tola eu sou, por sentir que estou errada, que estou
cometendo um crime em estar triste. Parece uma ofensa à pessoa radiante que
sempre fui. Parece uma sátira à pessoa forte que sempre tive que ser. Não é perceptível que alguém às vezes sofra?
Não é óbvio que a gente às vezes quer colo? Hoje eu só precisava não ter que decidir, não
precisar abrir mão.... Eu só queria por
alguns instantes ser fraca e frágil. Que alguém se preocupe com o que estou
sentindo e queira me consolar... Viver
uma aventura qualquer que não seja simplesmente a constância de equilibrar as
finanças todos os meses. Hoje nem os sonhos me auxiliam. Quase não durmo, se
durmo não sonho e se consigo sonhar é preferível ficar acordada! Já não sinto
cheiro de liberdade ou de outra coisa qualquer. As reticências me dominaram há
tanto tempo. Tomaram o lugar das exclamações, das vírgulas e dos pontos finais.
Não consigo me orgulhar do ser que me tornei. Construí tanta coisa linda, mas
tudo à base da minha autodestruição.
Sempre planejei tudo com tanta exatidão, que me esqueci de me preparar
para o momento em que as coisas saem do controle. Sempre fui fã do destempero,
hoje sou vítima dele!